Pedagogia/UFRGS/Aprendizagens

terça-feira, outubro 13, 2009

História Infantil Comentada


Módulo 3 Linguagem e Educação


Narrativa de Larissa.
Está no 2º ano, tem 8 anos.
Estuda em escola estadual e está em construção da sua alfabetização.

Era uma vez uma menina que se chamava Lili.
Ela era muito curiosa e um dia ela viu um passarinho azul, ela foi chegando perto,mas ele não se afastou como os outros então ela pergunta:
-De onde você é?
Você não é como os outros, de onde você vem?
-Eu sou do sul.
-E o seu nome?
-Sou o passarinho Tatá.
Eu não me afastei de você porque eu sou seu passarinho.
Quando você era pequena a sua mãe me deu para você.
Esta é sua madrasta e ela não me cuidava muito bem então eu fugi.
Sua mãe te deixou várias riquezas, mas a madrasta deu para Julieta.
-Sim a Julieta... mas ela não faria isto...
Lili disse:
-Você pode ficar comigo agora.
- Sim eu posso.
Lili foi falar com a madrasta:
- É verdade que minha mãe deixou riquezas e você deu para Julieta?
- De onde você tirou estas idéias?
- De minha cabeça. Eu me lembrei.
Mas naquela noite Lili fez sua malinha e foi encontrar o passarinho no poço.
O passarinho falou:
- Você pode fazer qualquer pedido que se realizará.
Ela pediu para que a madrasta devolvesse tudo o que a mãe tinha para lhe dar.
Neste momento apareceu uma bolsa com um vestido lindo e muitas jóias que eram da mãe dela.
E cada vez que Lili falava saíam flores da boca da Lili.
Mas a Julieta encontrou Lili e chamou a madrasta. Elas levaram Lili para casa
- Por que você fugiu?
- Porque você me roubou.
- Tá bem você ganhou, eu só ia pegar emprestado depois eu devolvia.
Julieta disse:
- Mamãe você não ia me...
- Fique quieta Julieta!
Daí começaram a sair flores da boca de Lili.
- Conte como isto te acontece.
- É o poço.
- Que poço?
- O que a gente pega água.
Elas foram até lá e fizeram o pedido no poço:
Que da boca delas também saíssem coisas bonitas.
Mas quando foram falar
Saíram cobras e lagartos.
Voltaram no poço e perguntaram
O poço então respondeu:
- Ela merecia as coisas bonitas e vocês não são boas, mereciam cobras e lagartos.
Lili encontrou o passarinho que fez um pedido de uma nova casa em que pudessem viver.
Assim aconteceu.
Durante a noite um homem bateu a porta e disse eu procuro a LIli
Sou pai dela.
Lili contou todas as coisas que a madrasta fez e
João , pai da Lili, foi até a casa e viu que a casa estava cheia de bichos. Ele voltou e ficou na nova casa de Lili.
O passarinho encontrou uma passarinha chamada Laura
Todos viveram naquela casa felizes para sempre.
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“Ficção e relato de experiências vividas são gêneros diferentes, mas, nos primeiros anos de vida, é comum que se combinem nas narrativas infantis, como apontou a lingüista Maria Cecília Perroni no livro Desenvolvimento do Discurso Narrativo.”


Na narrativa da criança ouvida também mistura-se gêneros de experiências reais com os de ficção. Essencial, segundo a autora para o desenvolvimento da expressão. Esta construção foi possível acessando seu repertório e tudo que foi aprendido , pois possivelmente ouviu muitas histórias desde pequena.

"...co-construção é o chamado "jogo de contar" - situação básica de aprendizagem quando o assunto é oralidade e que envolve uma relação de cumplicidade entre a criança e seu interlocutor. ..."

A menina Larissa tem apelido Lili na vida real e leva isto para seu relato. Usa esta “força” de linguagem criando cumplicidade com o que relata.

“dão um sentido pessoal aos elementos do ambiente e os elaboram à sua maneira para com eles poder lidar” Winnicott

Larissa esteve durante o dia alimentando passarinhos com seu avô e trouxe este elemento real para seu conto.

Conforme estudos de Lélia Erbolato Melo, linguista da Universidade de São Paulo (USP), as crianças incorporam as suas narrativas aspectos como a ação, os conflitos e o inesperado.
A menina Larissa é uma criança bem estimulada em suas expressões , pois apresenta em seu conto uma mistura de historinhas que ouviu e repete partes, pois sabe que eu escrevo o que ela conta, não podendo ficar uma só frase para trás, inclusive quando apago algumas letras ela confere para ver se não deixei de reescrevê-las.
Ao final lhe pergunto que nome tem esta história e ela responde:
- Lili no mundo mágico.
Eu vou desenhar a história que te contei, me dá um papel?

“Consideraremos, de modo geral, que o locutor-leitor-enunciador de escritura dispõe de três conjuntos de variantes enunciativas em número praticamente ilimitado [...]:
A. conjunto de enunciações faladas;
B. conjunto de enunciações escritas e
C. a intersecção entre estes dois conjuntos (enunciações podendo ser faladas ou escritas)” Lentin (1986:114).
A relação que a menina tem com a leitura ( mais ouvida do que lida ), está descrito acima; pois é visível dentro do seu relato, a “mixagem” que faz com as formas usuais escritas em contos infantis.
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Ao trabalhar nesta tarefa da interdisciplina - Linguagem e Educação - pude definir quanto a criança observa o mundo de forma detalhada, quanto insere estes conceitos em suas novas aprendizagens, num vai e vem de idéias que não são lineares, mas incorporativas.
A criança constrói momentos através do que sentiu, do que vivenciou e a partir da experiência modifica informações, as quais tem necessidade de expressar.
A realidade funciona como o material e a "invenção da história" como uma pinça, que traz o que ela percebe ser de proveito e de pronta utilização. A partir daí significa suas teorias e as põe em prática, seja na realidade de seu dia - a - dia, seja na montagem de novas histórias, em brincadeiras ou em soluções para seus desafios.
A aprendizagem acontece na relação com o mundo, com ela mesma, e com os outros. A criança produz desejo e direciona-se ao saber de maneira que interage de diversas formas e aqui vê-se tamanha importância da história criada, seja ela oral ou escrita.

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4 Comentários:

Às 11:22 AM , Blogger Simone disse...

Maria Inês é interessante observar como as crianças são criativas né? Elas misturam realidade, fantasia e seus desejos, nas histórias. Observo que procuraste integrar a teoria vista na interdisciplina com a história da Larissa. Essas relações nos ajudam a compreender melhor as teorias. Como costumas trabalhar histórias com teus alunos?
Um abraço, Simone - Tutora sede

 
Às 5:26 AM , Blogger Iris disse...

Olá, Maria Inês

Esta postagem é réplica de um trabalho pedido pela interdisciplina Linguagem e Educação? Quem é Larissa?
Quando li "Ao trabalhar nesta pesquisa pude definir quanto a criança observa o mundo de forma detalhada, (...)" fiquei curiosa e em dúvida: Que pesquisa foi essa? Tu trabalhaste nela ou isso é parte de um texto de outro autor?
Vou aguardar teu retorno.
Falas também em Oficina de Aprendizagem. Poderias explicar melhor o que é esta oficina?
Abra@os

 
Às 5:17 PM , Blogger Maria Inês disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
Às 6:55 PM , Blogger Maria Inês disse...

Oi!

A pedido...
A postagem é uma réplica de trabalho realizado neste semestre, sim, em Linguagem e Educação. Porém ao final exponho como senti ao realizar esta tarefa e não pesquisa, palavra que causou confusão, a qual a professora íris questiona. Vou editar e retirar pesquisa e pôr trabalho ou tarefa.

Larissa está no 2º ano. Editarei a postagem conforme sugestão. Acredito que ao buscarmos informações nas histórias de nossos alunos podemos transformar estas informações em aliados ao conhecimento, tanto para nosso crescimento como professor, quanto para o de nossos alunos.

Simone faz comentário sobre como as crianças têm relações entre vivências e fantasias, e neste ponto está a reflexão em que conceituo a “oficina de aprendizagem” acontecendo para cada indivíduo, nas suas interações com objetos, pessoas, fatos, tempos, locais, outras crianças e adultos. A profe Íris pergunta o que seria esta oficina.
E colo aqui suas informações:
“É verdadeiro que estamos sempre aprendendo porque estamos interagindo e constantemente trocando informações com o meio, mas "oficina" é um termo muito específico, um espaço de aprendizagem muito "calculado" e planejado, que em nada lembra as aprendizagens feitas no dia-a-dia.”

Não há texto de outro autor, as frases com aspas tem origem da tarefa enviada pela interdisciplina:
*Tem um monstro no meio da história (GURGEL, 2009).
* http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/desenvolvimento-e-aprendizagem/pensamento-infantil-narrativa-crianca-489339.shtml
* Concepções não-valorizadas da escrita: a escrita como “um outro modo de falar” (ROJO, 2006)

A Simone pergunta como é minha prática com histórias e meus alunos. E eu digo que trabalhei sempre da mesma forma. Escolhíamos historinhas de autores confiáveis e trabalhávamos nestas histórias prontas... Ruim... Quase nunca utilizamos as próprias histórias das crianças... Na ânsia de “não errar”... perdi oportunidades muito produtivas, perdi de conhecer o que meus alunos sentem e o que vivem , afinal compreendi. Graças a este curso, aliás tenho reaprendido, posso deixar muitas concepções antigas para trás e retomar a escola de forma acertiva, refletida e embasada em teoria, a qual tantas vezes, fugi. Diariamente tenho novas oportunidades.

 

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