Pedagogia/UFRGS/Aprendizagens

quarta-feira, junho 03, 2009

Índios por eles mesmos...

Através do site da FUNAI é possível visualizar as informações atualizadas sobre os indígenas brasileiros. Clicar no mapa e pesquisar.








Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Pólo Alvorada
Semestre 2009 / 1
Interdisciplina: Sociologia e História
Questões Étnico Raciais na Escola
Maria Inês Dalpiás Oliveira




Os índios, através das invasões armadas, renderam seu espaço e cultura em nome da sobrevivência. Inclusive a nomenclatura índio ou indígena agregava questão pejorativa, pois denominava pessoa da Índia, local que os portugueses “pensaram” ter encontrado.

Este nome, desviado da realidade ficou como forma discriminatória utilizado por pessoas de outros grupos. Assim como cada brasileiro pertence a uma identidade própria, “cada “índio” pertence a um povo, a uma etnia identificada por uma denominação própria, ou seja, a autodenominação, como o Guarani, o Yanomami etc.” Índio não expressava etnia. A discriminação não parava por aqui. A representação que se tem do índio é diversificada; pouco civilizados, sem cultura, incapazes, selvagens, preguiçosos, etc. “Para outros ainda, o índio é um ser romântico, protetor das florestas, símbolo da pureza, quase um ser como o das lendas e dos romances.” Estas observações arrastaram por anos um olhar confuso e errôneo a respeito desta raça.

Em 1970 o movimento organizado por índios do Brasil, chegou à conclusão da importância em manter, aceitar e promover a denominação genérica de índio ou indígena, como “uma identidade que une, articula, visibiliza e fortalece todos os povos originários do atual território brasileiro e, principalmente, para demarcar a fronteira étnica e identitária entre eles, enquanto habitantes nativos e originários dessas terras, e aqueles com procedência de outros continentes, como os europeus, os africanos e os asiáticos.”
Com esta retomada e nova consideração, o aspecto pejorativo, passa a identidade positiva e multiétnica.

O movimento articulado às políticas públicas,direcionadas aos indígenas no Brasil, se estabelece através da recuperação do índio e de sua identidade.

A força da identidade, retirada pelo colonizador e depois imposta por meios discriminativos, diante de seus costumes, revela que o povo indígena, através da escolha, unido pela nomenclatura indígena e parente, eleva suas conquistas no âmbito social. O próprio termo caboclo, como sendo uma transformação de povos indígenas, aos quais, se igualavam aos brancos, obtendo qualidade superior, descondensa-se ao longo de sua história, sendo novamente chamado a sua condição de índio e não caboclo... Confusões emocionais um tanto escravisadoras. Nota-se, porém que apesar das transformações dentro das mentes e corações dos índios, a evolução continua no papel de resgate da identidade, do orgulho e auto estima, como grande prova de valor.

No que diz respeito ao resgate de tradições e vida indígena, sabemos com clareza que seria impossível reabilitar as tribos escravizadas, perdidas e retiradas de suas terras. Retomar seus costumes tal e qual... Muito difícil, pois muitos perderam seu rumo e vivem entre os brancos e negros, ainda como caboclos. Podemos praticar o resgate emocional e tradicional, podemos observar os povos indígenas, revivendo sua espiritualidade seus costumes, com liberdade e valoração por todos. Quanto às suas formas sociais e políticas, cabe aos novos membros indígenas, agrupados em locais preservados, como seus, buscarem ao que desejam viver, sem perderem seu orgulho e crenças – o que forma sua identidade e sua força, tornando-os individuais e parte de um grande grupo. Investindo em responsabilidade pela própria cultura.
A diversidade cultural indígena é considerada
patrimônio da humanidade pela Convenção 169 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), ratificada (reconhecida como Lei
do país) pelo Brasil em 2003.
E as demais diversidades culturais são consideradas pela ONU patrimônio comum da humanidade.


"...consideram a si mesmos distintos de outros setores
da sociedade, e estão decididos a conservar, a desenvolver e a
transmitir às gerações futuras seus territórios ancestrais e sua
identidade étnica, como base de sua existência continuada como
povos, em conformidade com seus próprios padrões culturais, as
instituições sociais e os sistemas jurídicos."


"Entre os povos indígenas existem alguns critérios de auto definição
*Continuidade histórica com sociedades pré-coloniais.
*Estreita vinculação com o território.
*Sistemas sociais, econômicos e políticos bem definidos.
*Língua, cultura e crenças definidas.
*Identificar-se como diferente da sociedade nacional.
*Vinculação ou articulação com a rede global dos povos indígenas.


"O termo parente não significa que todos os índios sejam iguais e nem
semelhantes. Significa apenas que compartilham de alguns interesses
comuns, como os direitos coletivos, a história de colonização e a luta
pela autonomia sociocultural de seus povos diante da sociedade global."

"Cada povo indígena constitui-se como uma sociedade única, na medida
em que se organiza a partir de uma cosmologia particular própria que
baseia e fundamenta toda a vida social, cultural, econômica e religiosa
do grupo. Deste modo, a principal marca do mundo indígena é a diversidade."


Não posso deixar de explorar este parágrafo do texto em que o autor consegue expor com tanta clareza, clareza esta que advém da vida indígena, pois como coloca nossa professora, aqui o texto é redigido por membro indígena. O que faz uma imensa diferença das idéias que temos das tribos indígenas.

"...povos, culturas, civilizações, religiões, economias, enfim,
uma multiplicidade de formas de vida coletiva e individual."



"Deste modo, foi sendo possível construir uma nova conformação política pan-indígena em torno de direitos e interesses comuns, superando
a maior inimiga interna dos povos indígenas durante os séculos de colonização e tão bem aproveitada pelos colonizadores europeus: as guerras intertribais. De inimigos tornaram-se parentes, companheiros, irmãos de história na luta por direitos e interesses comuns contra um inimigo comum, aquele que os quer indistintos, portanto, extintos, enquanto povos etnicamente diferenciados.
A nova estratégia de aliança política pan-indígena é a responsável
pelas mais importantes conquistas dos povos indígenas do Brasil: a
superação do trágico projeto de extinção dos índios e a arrojada promessa de construção de uma unidade política dos povos indígenas que não signifique igualdade ou homogeneidade sociocultural e política,
mas sim uma unidade articulada de povos culturalmente distintos,
na defesa de seus direitos e interesses comuns. Dentre esses direitos e
interesses encontra-se a própria continuidade das diferenças de projetos
societários, de garantia das territorialidades e da conquista de
cidadania global diferenciada”


“Entrar e fazer parte da modernidade não
significa abdicar de sua origem nem de suas tradições e modos de vida
próprios, mas de uma interação consciente com outras culturas que leve
à valorização de si mesmo. Para os jovens indígenas, não é possível viver
a modernidade sem uma referência identitária, já que permaneceria o
vazio interior diante da vida frenética aparentemente homogeneizadora”

Desta sustentação cultural podemos sentir o vão que havia no indígena brasileiro.

A educação para os avanços dependendo da história e filosofia do povo. base sólida para qualquer ser humano.

ORGANIZAÇÃO INDIGENA PELO INDIO...
“Cada povo indígena possui um modo próprio de organizar suas relações
sociais, políticas e econômicas – as internas ao povo e aquelas
com outros povos com os quais mantém contato. Em geral, a base da
organização social de um povo indígena é a família extensa, entendida
como uma unidade social articulada em torno de um patriarca ou de
uma matriarca por meio de relações de parentesco ou afinidade política
ou econômica. São denominadas famílias extensas por aglutinarem um
número de pessoas e de famílias muito maior que uma família tradicional
européia. Uma família extensa indígena geralmente reúne a família
do patriarca ou da matriarca, as famílias dos filhos, dos genros, das noras,
dos cunhados e outras famílias afins que se filiam à grande família
por interesses específicos.
Toda organização social, cultural e econômica de um povo indígena
está relacionada a uma concepção de mundo e de vida, isto é, a uma
determinada cosmologia organizada e expressa por meio dos mitos
e dos ritos. As mitologias e os conhecimentos tradicionais acerca do
mundo natural e sobrenatural orientam a vida social, os casamentos,
o uso de extratos vegetais, minerais ou animais na cura de doenças,
além de muitos hábitos cotidianos. É a partir dessas orientações cosmológicas
que acontecem a organização dos casamentos exogâmicos
(casamentos cujos cônjuges pertencem a grupos étnicos ou sibs diferentes)
ou endogâmicos (casamentos cujos cônjuges pertencem ao
mesmo grupo étnico ou sib) e as divisões hierárquicas entre grupos
(sibs, fratrias ou tribos), que implicam o direito de ocupação de determinados
territórios específicos e o acesso a recursos naturais, bem
como o controle do poder político.
A organização política de um povo indígena geralmente está baseada
na organização social feita através de grupos sociais hierárquicos
denominados sibs, fratrias ou tribos. Fratria ou sib é uma espécie de
linhagem social dentro do grupo étnico, que está relacionada direta ou
indiretamente à origem do povo ou à origem do mundo, quando os grupos
humanos receberam as condições e os meios de sobrevivência. Os
sibs ou fratrias são identificados por nomes de animais, de plantas ou de
constelações estelares que, por si só, já indicam a posição de hierarquia
na organização sociopolítica e econômica do povo. Da mesma maneira,
os nomes dados aos indivíduos indígenas estão diretamente relacionados
ao sib ou à fratria a que pertencem, ou seja, à posição hierárquica
que cada indivíduo ocupa dentro do grupo.
Essa diversidade cultural dos povos indígenas demonstra a multiplicidade
de povos e das suas relações com o meio ambiente, com o
meio mítico religioso e a variação de tipos de organizações sociais, políticas
e econômicas, de produção de material e de hábitos cotidianos
de vida. Pode-se afirmar que os modos de vida dos povos indígenas
variam de povo para povo conforme o tipo de relações que é estabelecido
com o meio natural e o sobrenatural. Em razão disso, os lugares
e os estilos de habitação variam de povo para povo. Alguns escolhem
para morar as margens dos rios, outros, o interior da floresta e outros
mais, as montanhas. Alguns deles vivem em grandes malocas comunitárias,
outros habitam aldeias ovais compostas por várias casas ou
pequenas malocas, ou ainda, casas separadas e dispersas ao longo dos
rios e das florestas. Do mesmo modo, alguns praticam preferencial45
mente a pesca, outros, a caça e outros ainda, a agricultura ou a coleta
de frutos silvestres.
Os tipos e as condições em que as relações acontecem com o meio
natural e sobrenatural também influenciam a qualidade de vida. Povos
que vivem em terras mais extensas e abundantes em recursos naturais
têm a possibilidade de uma vida mais rica, baseada em valores como a
solidariedade, a reciprocidade e a generosidade. Ao passo que os povos
que ocupam terras reduzidas e com recursos naturais escassos vivem
conflitos internos maiores, o que dificulta muitas vezes as práticas tradicionais
de reciprocidade e o espírito comunitário e coletivo.
As relações sociais mais fortes entre os povos indígenas são as de
parentesco e de alianças. Como já vimos, as relações de parentesco
estendem-se ao escopo de uma família extensa e são a base de toda
a estrutura social de um povo. As relações de alianças estabelecemse
a partir de necessidades estratégicas comuns entre os aliados e são
muitas vezes temporais. Deste modo, as alianças constituem a base de
interesses comuns compartilhados e recíprocos, uma espécie de troca.
Esses interesses freqüentemente estão relacionados à troca de mulheres,
ao compartilhamento de espaços territoriais privilegiados em recursos
naturais, aos interesses comerciais (trocas) ou às alianças de guerras
contra inimigos comuns.
São essas relações de parentesco e as alianças que dinamizam e organizam
as festas, as cerimônias, os rituais, as pescas ou as caças coletivas,
os trabalhos conjuntos de roça e a produção, o consumo e a distribuição
de bens e serviços, principalmente de alimentos. As festas, por exemplo,
são nada mais do que a comemoração de vitórias e conquistas, e podem
advir de uma boa coleta ou servem para festejar o sucesso dos pajés que
impediram qualquer castigo ou mal-feito dos inimigos. A participação
nas festas e nas cerimônias revela explicitamente as fronteiras das relações
de amizade ou de inimizade entre grupos ou povos, sempre com
uma lógica de reciprocidade, ou seja: aos amigos, cabe a reciprocidade
da amizade; aos inimigos, a reciprocidade da inimizade e a conseqüente
vingança. São as relações de alianças e de inimizades que constituem
o equilíbrio social dos grupos e dos povos, uma espécie de contrato
social. Sem elas, o mundo indígena seria um caos, ou melhor ainda, o
mundo da lei do mais forte.
De forma sucinta podemos afirmar que a base da complexa organização
social indígena está centrada nas relações de parentesco e
nas alianças políticas e econômicas que cada povo ou grupo familiar
estabelece. Os grupos de parentesco e de aliados formam potencial e
concretamente os grupos de organização que se constituem em verdadeiros
grupos de produção de bens e serviços. A distribuição e o
consumo de bens são orientados a partir de tais grupos. Quando um
caçador consegue uma caça, sua obrigação é distribuí-la em primeiro
lugar entre os membros da sua família extensa e somente satisfeita
essa obrigação é que ele poderá atender a outros membros ou mesmo
à comunidade inteira.”


“cada povo tem uma cultura
distinta da outra, porque se situa no mundo e se relaciona com ele de
maneira própria.”

"Estimativas menos otimistas indicam que em 1500, quando da chegada
de Pedro Álvares Cabral, viviam no Brasil pelo menos 5 milhões
de índios. Há dados históricos e científicos suficientes para se afirmar
que eram muito mais, uma vez que somente os Guarani representavam
pelo menos 1 milhão de pessoas à época.
Desta constatação histórica importa destacar que, quando falamos
de diversidade cultural indígena, estamos falando de diversidade de
civilizações autônomas e de culturas; de sistemas políticos, jurídicos,
econômicos, enfim, de organizações sociais, econômicas e políticas
construídas ao longo de milhares de anos, do mesmo modo que outras
civilizações dos demais continentes: europeu, asiático, africano e a oceania.
Não se trata, portanto, de civilizações ou culturas superiores ou
inferiores, mas de civilizações e culturas equivalentes, mas diferentes.”

“A consciência de uma
cultura própria é em si um ato libertador, na medida em que vence o
sentimento de inferioridade diante da cultura opressora”
“À sua maneira, as culturas indígenas expressam os grandes valores
universais. Nas solenidades das festas, no refinamento dos vestidos e na
pintura corporal, na educação dos filhos, na concepção sagrada do cosmos,
elas manifestam a consciência moral, estética, religiosa e social.
A diversidade de visões do mundo, do homem e dos modos de organização
da vida, os conhecimentos e os valores transmitidos de pais para
filhos, a tradição oral e a experiência empírica são a base e a força dos
conhecimentos e dos valores. A territorialidade atua como um estado de
espírito e os ritos e os mitos, como referência da identidade e da consciência
humana e da natureza.
A interculturalidade é uma prática de vida que pressupõe a possibilidade
de convivência e coexistência entre culturas e identidades.
Sua base é o diálogo entre diferentes, que se faz presente por meio de
diversas linguagens e expressões culturais, visando à superação da
intolerância e da violência entre indivíduos e grupos sociais culturalmente distintos.”
*Obs.:Material coletado para futuras aulas sobre Índios

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